quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Livro recomendado para o 2º ano de escolaridade destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade III.

Mariana conta um sonho a seu irmão Pedro. Nesse sonho, Pedro e Mariana, um pássaro maravilhoso e o avô vão entrar numa aventura extraordinária. Este é o primeiro livro da colecção "Biblioteca Pedro e Mariana".

Sape, cão!


Era uma vez um cão com dono...
Era uma vez um gato sem dono...
- Quem vem lá? - pergunta o cão, de focinho no ar, a farejar, a farejar...
Claro que esta pergunta a fez ele muito antes de tudo isto começar - aí a uns duzentos metros desta história.
O gato não tem o faro tão apurado, mas os olhos dele atravessam a distância e pressentem sombras e ameaças, que só ele conhece. Por acaso, desta vez, o gato não ia a olhar para onde devia. Era um gato distraído. Ou míope.
Quando se lhe eriçaram os bigodes, já era tarde. À sua frente, de supetão, um cão cãozarrão, voz de trovão... Que aflição!
Foge!
Antes que lhe dissessem, já ele tinha fugido. As patas iam à frente, e ele com elas. Tal como nos filmes de desenhos animados.
Este filme é curto. Acaba numa árvore sem frutos, sem folhas, uma árvore mesmo a propósito para salvar gatos.
Correu por ela acima e não deu por que subia. Nem que fosse um pinheiro gigante, um mastro, um muro de castelo. Nem que fosse a Torre Eiffel... De unhas-canivetes-picaretas, com a pressa atarantada em que ia, o gato até era capaz de trepar à Lua, se houvesse escadas para lá chegar.
Ficou-se pelo cimo da árvore. Deu por isso quando lhe faltou o apoio. Sobravam-lhe forças para muito mais lances.
- E agora? - perguntou, lá de acima, o gato, engolindo ar.
Ele era preto, como o corvo da fábula, enquanto o cão, mal acomparado, fazia as vezes da raposa. Faltava apenas o queijo. E a manha.
- E agora? - perguntou de novo o gato, mais seguro do seu poiso.
- Agora fico à espera que a árvore dê frutos e os frutos caiam de maduros... - rosnou o cão.
Se nos ficássemos por aqui, esta história não chegava ao fim, o que era pena. Temos nós, portanto, de acrescentar o mais importante da fábula.
Sim, porque isto é uma fábula, a do cão, animal doméstico, e do gato, animal vadio... As conclusões, vocês que as tirem.
- Piloto! - chamou uma voz ao longe.
O cão Piloto fingiu que não era com ele.
- Estão a chamar-te, Piloto. Tens de ir - aconselhava-lhe, do seu poleiro, o gato. - Sempre ouvi dizer que os cães são muito obedientes.
- Piloto! - repetiu a voz, mais perto e mais impaciente.
O cão rosnou, levantou os traseiros e voltou a sentar-se.
- Piloto, venha já ao dono! - gritou a voz ameaçadoramente perto.
E o Piloto, de cabeça baixa, lá foi, suspirando...

Conto retirado do site http://kids.sapo.pt/descobrir/historias/historia_do_dia/artigo/sape_cao

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cântico Negro - José Régio


Cântico Negro, de José Régio, declamado por João Villaret.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Contos Completos (1947-1992)

Este volume reúne os contos escritos por Gabriel García Márquez desde os finais dos anos 1940, até meados dos anos 1990. Um conjunto de 41 histórias que nos permite desfrutar de todo o encanto e mestria do genial escritor colombiano, e que nos leva a um mundo inesquecível, cuja realidade se expressa mediante fórmulas mágicas e lendárias.
Histórias fantásticas que reflectem a cultura sul-americana, misturando acontecimentos surreais e detalhes do quotidiano, escritas com o estilo que caracteriza a obra de García Márquez, em que os milagres se inserem na vida quotidiana e a prosa se aproxima inevitavelmente do seu destino fatal: a poesia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Abraço











José Luís Peixoto partilha, com ímpar mestria, as suas recordações sobre a infância, as terras alentejanas, o amor, a escrita, a leitura, as viagens, as tatuagens, a vida. O autor escreve sobre si próprio, impressionando-nos com a simplicidade da sua escrita, onde nos revemos a cada passo. Estamos perante uma escrita íntima, na qual o autor fala de si próprio, parecendo-nos que fala de cada um de nós...
A confirmação de um grande escritor.
Imperdível!
Boas leituras!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011




Minha mãe e minha tia foram à feira. Minha mãe com o meu pai e minha tia com o meu tio. Mas todos juntos. Na camioneta da carreira. Na feira compraram muitas coisas e a certa altura minha mãe viu uma galinha e disse:
- Olha que galinha engraçada.
E comprou-a também. Estava agachada como se a pôr ovos ou a chocá-los. Era castanha nas asas, menos castanha para o pescoço e a crista e o bico tinham a cor de um bico e de uma crista. Nas costas levara um corte a toda a volta para se formar uma tampa e meterem coisas dentro, porque era uma galinha de barro. Minha tia, que se tinha afastado, veio ver, estava a minha mãe a pagar depois de discutir. E perguntou quanto custava. A mulher disse que vinte mil 
réis, minha tia começou aos berros, que aquilo só se o fosse roubar e a mulher vendeu-lhe uma outra igual por sete mil e quinhentos. Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado, mas só conseguira baixar para doze e duzentos. A mulher disse:
- Foi por ser a última, minha senhora.
Minha tia confrontou as duas galinhas, que eram iguais, achando que a de minha mãe era diferente.
- Só se foi por ser mais cara - disse minha mãe com a ironia que pôde.
Minha tia aqui voltou a erguer a voz. Não se via que era diferente? Não se via que tinha o bico mais perfeito? E o rabo?
- Isto é lá rabo que se compare?
E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs fim ao 
sermão, por não gostar de trovoadas:
- Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.
Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:
- Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim (bateu) para se ver que é mais forte.
- Então fica com ela outra vez - disse minha mãe.
- Não, não. 
Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.
Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo por ele e, se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia 
engolia-o. Meu pai também estava a assistir, mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de mulheres. Acabadas as compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça do António Capador que tinha ido vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda com o meu tio, porque precisavam de ir visitar a D. Aurélia, que era uma pessoa importante e merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante. E como ficavam e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a minha mãe que lhe trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado, que até se podia partir. De modo que disse:
- Tu podias levar-me a galinha, para não andar com ela o dia inteiro 
num braçado, que até se pode partir.
Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a minha tia ficou. E quando à tarde ela voltou da feira, foi logo buscar a sua. Minha mãe já a tinha ali, embrulhada e tudo como minha tia a deixara, e deu-lha. Mas minha tia olhou a galinha de minha mãe, que já estava exposta no 
aparador, e, ao dar meia volta, quando se ia embora, não resistiu:
- Tu trocaste mas foi as galinhas.
Disse isto de costas, mas com firmeza, como quem se atira de cabeça. E minha mãe pasmou, de mãos erguidas ao céu:
- Louvado e adorado seja o Santíssimo Nome de Jesus! Então eu toquei lá na galinha! Então a galinha não está ainda conforme tu ma entregaste! Então tu não
 vês ainda o papel dobrado? Então não estarás a ver o nó do fio?
Estavam só as duas e puderam desabafar.
- Trocaste, trocaste. Mas fica lá com a galinha, que não fico mais pobre por isso.
Minha mãe, cheia de compreensão cristã e de horror às 
trovoadas, ainda pensou em destrocar tudo outra vez. Mas aquilo já ia tão para além do que Cristo previra, que bateu o pé:
- Pois fico com ela, não a quisesses trocar. Só tens gosto naquilo que é dos outros.
E daqui para a frente, disseram tudo. Minha tia saiu 
num vendaval, desceu as escadas ainda aos berros, de modo que minha mãe teve ainda de vir à janela dizer mais coisas. Minha tia foi indo pela rua adiante, sempre aos gritos, e de vez em quando parava, voltando-se para trás para dizer uma ou outra coisa em especial a minha mãe, que estava à janela e lhe ia também respondendo como podia. Até que a rua acabou e minha mãe fechou a janela. E aí começou o meu pai, quando lá longe minha tia lhe passou ao pé e meu pai lhe perguntou o que havia e ela lhe disse o que havia, chamando mentirosa a minha mãe. Meu pai então disse:
- Mentirosa é você.
E começou a apresentar-lhe os factos comprovativos do que afirmara e que já tinha decerto 
enaipados de outras ocasiões, porque não se engasgava:
- Mentirosa é você e sempre o foi. Já quando você contou a história do Corneta, andou a dizer que...
- Mentiroso é você, como sua mulher. Uma vez na padaria a sua mulher disse que...
E daí foram recuando no tempo à procura das mentiras um do outro. Estavam já chegando à infância, quando apareceu o meu tio. Minha tia passou-lhe a palavra e começou ele. Mas como a coisa agora era entre homens, meu tio cerrou os punhos e disse:
- Eu mato-o, eu mato-o.
Meu pai, que já devia estar cansado, ficou quieto, à espera que ele o matasse, e como ficou quieto, meu tio recuou uns passos, tapou os olhos com um braço e disse outra vez:
- Foge da minha vista que eu mato-te.
Entretanto olhou em volta à espera que o segurassem. E quando calculou que tudo estava a postos para o segurarem, ergueu outra vez os punhos e avançou para o meu pai. Finalmente seguraram-no, e meu tio 
estrebuchou a querer libertar-se para matar o meu pai. Mas lá o foram arrastando, enquanto o meu tio se voltava ainda para trás, escabujando de raiva e de ameaça.
Vergílio Ferreira, Contos,
Venda Nova, Bertrand, 1979 (2ª ed.)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A propósito de "O velho e o mar"...
Lindo!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011








Leitura recomendada para alunos a partir do 8º e 9.º ano.
O Velho e o Mar é, porventura, a obra-prima de maturidade de E. Hemingway. Santiago, um velho pescador cubano, minado por um cancro de pele que o devora cruelmente, está há quase três meses sem conseguir pescar um único peixe. Vai então bater-se, durante quatro dias, com um enorme espadarte, que conseguirá de facto capturar, para logo o ver ser devorado por um grupo de tubarões. 
Esta aventura poética, onde Hemingway retrata, uma vez mais, a capacidade do homem para fazer face e superar com sucesso os dramas e as dificuldades da vida real, é seguramente uma das suas obras mais comoventes e aquela que mais entusiasmo tem suscitado, ao longo de mais de meio século, entre os seus fiéis leitores.  "O Velho e o Mar" recebeu o Prémio Pulitzer, de 1952, e, dois anos mais tarde, Hemingway obteve o Prémio Nobel da Literatura.
Imprescindível leitura para a consolidação da cultura geral e literária!

O Clube dos Sete Volume






O Clube dos Sete
Volume 1


Proposta para leitores dos 6 aos 10 anos, relembrando a grande escritora juvenil Enid Blyton, que fez parte do imaginário infantil de tantos adultos de hoje.

 Nesta aventura, vem conhecer o Pedro, a Joana, o Jaime, a Bárbara, a Sara, o Vasco e o Jorge. Eles são o Clube dos Sete e estão prontos para resolver qualquer mistério, a qualquer hora. 
É a primeira aventura do Clube dos Sete e estes super detectives já andam às voltas com um mistério! As pistas apontam para uma velha casa desabitada e o grupo disfarça-se para a vigiar...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Esta história sobre o amor e a solidão, uma das obras mais amadas, admiradas e vendidas do nosso tempo, continua atualíssima, porque é intemporal e continua a ser inspiradora para leitores de todas as idades.

O narrador da obra é um piloto com um avião avariado no deserto do Sahara. O acidente estraga o avião e deixa o narrador com pouca água e comida. Enquanto ele estava preocupado com a sua atual situação, o Principezinho aproxima-se dele. Este era um pequeno rapaz loiro que pede ao narrador para lhe desenhar uma ovelha. O narrador - por muito absurdo que lhe pareça o pedido - não se atreveu a desobedecer e os dois tornam-se amigos. O Principezinho conta a sua viagem de planeta em planeta, cada um sendo um pequeno mundo povoado com um único adulto. Enquanto viajava, o narrador diz-nos que o Principezinho passa por asteróides vizinhos e encontra pela primeira vez o estranho mundo dos adultos. Nos seis planetas que visita, ele encontra um Rei, um Presunçoso, um Bêbado, um Homem de Negócios, um Acendedor de Candeeiros, um Geógrafo, todos eles vivendo sozinhos e estando completamente consumidos pelas suas atividades. Tais estranhos comportamentos fazem o pequeno príncipe refletir sobre a vida e as relações. Ele não entende a necessidade de mandar nas pessoas, de ser admirado, e possuir tudo.

Uma história muito bonita, sobre a tristeza e a solidão, que faz refletir sobre os valores da vida.

Uma obra intemporal, para todas as idades e para reler quando já nos esquecemos do que é verdadeiramente importante na vida!...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor
António Ramos Rosa

Inesquecível!...



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A rapariga voadora

Erica, uma jovem com 14 anos, vive a sonhar com o ballet, deixando para trás todas as outras ocupações próprias da sua idade. Ivo, igualmente com catorze anos, também tem um sonho e, por mais que tente, não consegue que  Erica participe no seu sonho. Na verdade, ela vive alheada de tudo e de todos, pensando somente na sua dança e na sua música. Até que um grupo da escola resolve apresentar uma peça de dança-jazz e pede a sua colaboração…
Uma bela peça de teatro inspirada nos problemas e nas situações que os jovens enfrentam no seio da família, na escola e no contexto mais alargado das relações sociais.
Um livro a ler e, porque trata de temas muito atuais, a dramatizar na escola!
Boas leituras!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Verdadeira História do Doutor Grilo / Periquinho e Periquinha


Hoje sugerimos um livro de Alice Vieira, lançado em janeiro último, com várias histórias, escrito de forma muito aliciante e imaginativa: A Verdadeira História do Doutor Grilo / Periquinho e Periquinha

A Verdadeira História do Doutor Grilo fala de Manel Grilo, o homem mais esperto à face da terra.
Com a sua esperteza conseguia enganar estudantes e até o próprio rei. Mas chega um dia em que só a esperteza é pouco… e estudar a sério dá mesmo jeito…
Periquinho e Periquinha viveram num tempo muito, muito antigo, em que as madrastas eram sempre terríveis… Mas, como em todas as histórias tradicionais, quem é bom tem sempre a merecida recompensa.
Nesta colecção, Alice Vieira recria com talento histórias da tradição popular portuguesa.

Boas leituras!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os filhos da droga


Os Filhos da Droga são um retrato da sociedade moderna, um mundo onde esta realidade é apresentada como uma alternativa à solidão e à tristeza. 

É relatado o drama de Christiane, uma menina cujas circunstâncias levam até Berlim. Acontecimentos vários levam os pais a divorciarem-se e a mãe a ficar com a sua tutela. A dor e a tristeza levam Christiane a conhecer as pessoas erradas, nas quais vai depositar toda a confiança, levada pela sua idade e curiosidade. Assim, é arrastada para o mundo da droga. Primeiro consome drogas leves, até que chega a uma realidade bem dura, da qual parece não haver saída nem retorno. Aos 13 anos, com o namorado de 17 anos, é levada à prostituição e ao roubo para poder alimentar o vício que a devora diariamente.  
Eis um relato bem duro de uma realidade tão presente. 
A (re)ler, sem dúvida!



terça-feira, 7 de junho de 2011

Poema nº 20 de Pablo Neruda





PUEDO ESCRIBIR LOS VERSOS MÁS TRISTES ESTA NOCHE (POEMA 20)
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

 
POSSO ESCREVER OS VERSOS MAIS TRISTES ESTA NOITE (POEMA 20)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.

Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como na relva o orvalho.

Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes, os últimos versos que lhe escrevo.

terça-feira, 31 de maio de 2011





O Profeta do Castigo Divino
Pedro Almeida Vieira




Este romance relata-nos a vida e obras do jesuíta Gabriel Malagrida (1689-1761), que viveu como santo iluminado e morreu como herege, queimado pela Inquisição. A história passa-se no período imediatamente anterior ao grande terramoto de Lisboa e segue também a vida dos reis da altura, do Marquês de Pombal e todos os problemas religiosos, políticos e económicos que se faziam sentir. Nesta obra,em que o diabo é, afinal, a mais compreensível das criaturas, ficamos a conhecer também a figura de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, que foi governador do Maranhão e a sua influência no cruel destino da Companhia de Jesus, a história do Convento do Louriçal e das suas freiras, repleta de sangue e milagres, a história da Igreja Católica e a sua visão de Deus como castigador. Uma visão diferente de Portugal no século XVIII.

terça-feira, 24 de maio de 2011




POEMA À MÂE

No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

Aniversário



Declamado por Maria Bethânia

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...



Álvaro de Campos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011




Grégoire detesta a escola. Reprova, acumula faltas e expulsões e os pais têm dificuldade em encontrar um estabelecimento que o aceite. Ele sente-se infeliz por ter de ir à escola e por ver os pais sempre a discutir, mas esquece tudo isto quando faz trabalhos manuais, actividade onde é excepcionalmente bom e inventivo. Nada lhe agrada mais do que passar horas a fio a conversar e a fazer bricolage com o seu avô Léon. Surge porém um momento em que Grégoire vai ser obrigado a crescer...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Primeiro Livro de Poesia



Este é um dos livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura e destina-se à leitura orientada em sala de aula.
«Constituído por obras de poetas de todos os países de língua oficial portuguesa, O Primeiro Livro de Poesia é um livro de iniciação, destinado à infância e à adolescência e onde procurei reunir poemas que, sendo verdadeira poesia, sejam também acessíveis ..."(Sophia de Mello Breyner Andresen).

terça-feira, 29 de março de 2011

Adeus

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”

terça-feira, 22 de março de 2011

A NOITE DAS MULHERES CANTORAS

Lídia Jorge já nos habituou a uma escrita ímpar e cativante. É o caso deste novo romance psicológico, alicerçado na memória, na culpa, na sobrevivência, na ambição humana de reconhecimento e… no amor.  A acção decorre no final dos anos 80 do século XX e procura dar resposta a uma pergunta,  que percorre o romance da primeira à última página: quantas vítimas se deixam pelo caminho para se perseguir um objectivo? 

A LER MESMO!

terça-feira, 1 de março de 2011

O tubarão na banheira




David Machado juntou-se ao ilustrador Paulo Galindro neste livro infantil. Nesta história, um dos protagonistas é um tubarão que entra dentro de casa e dorme numa banheira. Mas este tubarão mais ou menos bem comportado também anda de carro e vai à escola. Parece mentira? Só para quem não acredita no poder dos pensamentos. O Tubarão na Banheira é um livro de grande encanto, ao qual não faltou inspiração literária e criativa. Para aguçar a curiosidade, vejam este interessante vídeo sobre a história.

O rebanho perdeu as asas

417
Amigos, acabou de chegar à bibiloteca um belo livro, especialmente  para os mais novos.
É uma história autobiográfica com abelhas, favos de mel e colmeias. Uma história muito estranha, que nos conta os sonhos de pessoas singulares e inesquecíveis. Uma história sobre os equilíbrios da Natureza, passada num tempo diferente.  Se não bastasse a bela história, o livro tem também originais e imaginativas ilustrações, que mais facilmente nos transportam para o mundo imaginado por António Mota. A ler!




terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sei uma história

Amigos
Quem não conhece uma boa história?
Todos nós já ouvimos contar  histórias ou já lemos algumas muito boas, que nos ficaram na memória. Então, porque esperamos?
O blog "@de livros" lança o desafio a todos: escrevam-nos uma boa história e enviem-na para becre.montenegro@gmail.com. Nós publicaremos as melhores no nosso blog, para que todos as conheçam.
Aceitam o desafio?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Maria Teresa Maia Gonzalez fala dos seus livros

http://www.youtube.com/watch?v=0t0q1J0gCQA
Não deixem de ver a autora de Lua de Joana a falar sobre os seus livros.
Quanto à escola do Montenegro, a professora bibliotecária garante que os alunos cada vez lêem mais os seus livros.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os bichos



É tempo de reler algo do que de mais belo se escreveu em Portugal: Os Bichos, de Miguel Torga
Neste extraordinário livro de contos, Torga fala-nos de seres do reino animal e dos homens que convivem com eles, revelando em ambos os mesmos instintos primários de sobrevivência, atribuindo aos animais sentimentos humanos e retirando aos homens esses mesmos sentimentos.
Miguel Torga, dando-nos a perceber o mundo pelo ponto de vista dos animais, apresenta-nos, entre outros: Nero, que recorda os seus tempos de jovem perdigueiro; Mago, o gato, que viveu a sua juventude, namoriscando pelos telhados e que agora, já sem força, se refugiava nos mimos da dona; Morgado, o macho, que o dono entregou aos lobos para salvar a própria pele;  e ainda a história de Miura, o touro,  enfrentando a cobardia dos homens que, resguardados nos seus cavalos, lhe espetavam afiadas farpas.
Este livro, que nos relembra as nossas fraquezas humanas, é de leitura absolutamente obrigatória, o que não é difícil quando temos diante de nós algumas das mais belas páginas que já se escreveram em português.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O último cabalista de Lisboa

"O Último Cabalista de Lisboa" é um romance, fundamentado em factos verídicos, cuja acção decorre em 1506, entre os judeus forçados a converter-se ao cristianismo, no reinado de D. Manuel I, o Venturoso (cobarde, para os protagonistas deste livro). Em Abril desse ano, durante as celebrações da Páscoa, cerca de 2000 cristãos-novos foram assassinados e os seus corpos queimados no Rossio. É neste clima de caos e terror que se dá a morte de Abraão Zarco, residente em Alfama, cristão-novo e iluminador da célebre escola cabalística de Lisboa.
A acção decorre numa época da História portuguesa em que a inaceitável violência e intolerância religiosa de então provocam arrepios ao leitor de hoje. Chega a apetecer desistir da leitura do livro, no entanto, Zimler é um escritor que nos prende até ao fim, neste romance que nos faz também pensar que a história se repete... mas com outros protagonistas!

Imprescindível!

 

LER

Tenho sorte porque gosto de estar sozinho. Em silêncio. Pensando, escrevendo, preparando o almoço, fazendo uma soneca... E lendo.
Mas quando tenho um livro nas mãos, não estou verdadeiramente sozinho: fazem-me companhia as palavras do escritor. Falam dentro da minha cabeça. E quando estou a ler palavras que me tocam – que descrevem um sentimento meu, que pensava que nenhuma outra pessoa partilhava – a distância entre mim e o autor parece desaparecer, mesmo se viveu no século XVII ou se é de um pais longínquo.
Estes momentos íntimos de compreensão entre pessoas que nunca se encontraram são uma forma de magia à qual todos nós temos acesso. E enquanto duram todos somos mágicos!


Richard Zimler nasceu em 1956 em Nova Iorque. É licenciado em Religião Comparada pela Duke University e mestre em jornalismo pela Stanford University. Em 2002 naturalizou-se português. Escreveu cinco romances desde 1996, quatro dos quais foram publicados em Portugal: O Último Cabalista de Lisboa – best-seller em onze países, Trevas de Luz, Meia-Noite ou O Princípio do Mundo (Gótica, 2003) e Goa ou o Guardião da Aurora (Gótica 2005). É professor de jornalismo no Porto.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Lua Não Fica Cheia Num Dia


O tema da sexualidade oferece muitas dúvidas, maiores ainda quando tem de ser explicado aos jovens...
Este livro, fruto da experiência das autoras na área da educação sexual, procura dar uma ajuda a pessoas interessadas e implicadas em processos educativos. Pretende reflectir e informar sobre a sexualidade e o desenvolvimento psicossexual e sensibilizar para possíveis consequências que advêm da falta de informação ou de informação deficiente, sobre um assunto ainda tabu. O texto vem recheado com muitos desenhos, epígrafes e citações, é de fácil leitura e dá mesmo uma ajuda, sobretudo a quem está na área da educação sexual.
A ler, sem dúvida!

Hello Kitty - Guia das Adolescentes

O teu corpo está a mudar? Estás sempre a pensar naquele rapaz? Achas que estudar é mesmo aborrecido? Os teus pais não te entendem? Sentes que ninguém te entende? Neste livro (que acabou de sair) irás encontrar as respostas de que necessitas para resolveres esses problemas tão difíceis nesta idade.
O Guia das adolescentes Hello Kitty  foi criado por duas psicólogas portuguesas e fala contigo, através de uma linguagem simples, dos problemas que mais te incomodam. Verás, com os seus conselhos e dicas, que não estás sozinha no mundo e que tudo tem uma solução, a maior parte das vezes fácil. Assim, poderás viver este período da vida de forma mais fácil e divertida e desfazer aquela nuvem negra que te persegue sem piedade.
De que estás à espera para viveres a vida de forma mais divertida?