quarta-feira, 30 de maio de 2012

Se ele estivesse acordado


Se ele estivesse acordado


Uma história para a infância


O pintainho Besnico só conhecia a rede cinzenta da capoeira, onde tinha nascido. Por isso, quando, uma vez, se escapuliu por um buraco da rede e deu os primeiros passos à luz do Sol, foi um espanto. 

A mãe galinha bem o tinha avisado: Nunca saias sem mim. Lá fora há muitos perigos que tu não conheces. Nunca saias sem mim!" 

Mas ele saiu. Desobedeceu, o maroto! A verdade é que, pouco tempo depois, estava de volta, muito afogueado, muito exaltado com tudo o que tinha visto. 

A mãe, primeiro, zangou-se, mas, depois, em voz mais macia, quis saber porque vinha tão nervoso da corrida pela eira da quinta. 
- Ai, a mãezinha tinha razão - respondeu-lhe o pintainho Besnico. - Há muitos perigos lá fora, muitos bichos esquisitos, grandes, que metem medo. Vi um muito grande, às malhas pretas e brancas, com dois paus na cabeça e um rabo sempre a dar a dar. Que susto! 
- É a vaca! - explicou a mãe. - Daí não vem mal nenhum. As vacas não fazem mal aos pintos. 
- E um, cinzento, de grandes orelhas, que batia as patas no chão com toda a força e mostrava os dentes amarelos, enquanto comia a erva do pátio, esse deve ser dos piores, não é? 
- O burro? - riu-se a mãe. - Desse lado também não há que temer. Os burros não ligam aos pintos. 
- E eu que pensava que eram perigosos! - suspirou, aliviado, o pintainho Besnico. - Mas também vi um muito simpático. Estava a dormir ao sol. Tinha uns enormes bigodes, focinho miúdo, orelhas pequenas e o corpo muito fofo, de pêlo amarelo às riscas, muito bonito. Estive quase tentado a dar-lhe uma bicada, de brincadeira... 
- Nunca! - gritou-lhe a mãe, toda arrepiada. - Esse bicho chama-se gato e, se estivesse acordado, não sei o que seria de ti... 
A mãe galinha apertou contra ela aquele filhinho inocente, que ainda tinha tanto para aprender na vida, enquanto repetia vezes sem conta: Ai, se ele estivesse acordado o que seria de ti... Ai, se ele estivesse acordado..."