sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Obrigada por não me empurrares

As minhas pernas andavam para a frente e para trás. Embora estivesse a usar toda a força que tinha para que o meu baloiço chegasse ao céu, estava muito longe de o conseguir.
— Mãe, podes empurrar-me outra vez?
— Não, filha. Eu sei que consegues chegar mais alto. Concentra-te e continua a usar as tuas pernas.
Olhei em volta e vi todas as outras mães e pais do parque a empurrar os filhos, sob o calor escaldante de junho. Perguntei-me por que razão a minha mãe não fazia o mesmo. Não que lho fosse perguntar. Temia bem aquele olhar que os pais lançam aos filhos, quando acham que a sua autoridade está a ser questionada.
— Está bem — resmunguei.
Embora eu não acreditasse na força das minhas pernas, a minha mãe parecia ter muita confiança nelas. Coloquei as mãos em volta das correntes de metal, pus-me em posição, balancei para trás e lá continuei.
— Continua a balançar as pernas, filha! Tu consegues! — encorajou-me ela.
Parecia querer o meu sucesso mais do que eu mesma. Como não queria desapontá-‑la, lá me esforcei. Acabei por chegar tão perto do céu que os meus pés já tocavam as nuvens. Sorri abertamente ao ver que tinha conseguido o impossível. Tinha conseguido voar.
Saltei do baloiço e enterrei os pés na areia quente.
— Viste o que eu fiz, mãe? Viste?
— Claro que vi. Estive sempre a olhar para ti.
Naquela altura, não compreendia por que motivo a minha mãe queria que eu fizesse tudo sozinha. Se eu não conseguia balançar mais alto, porque não me empurrava ela?
Ao longo dos anos, a minha mãe deu-me o maior presente que um pai ou mãe podem dar aos filhos: um amor exigente, liberdade e independência. Ensinou-me a enfrentar os desafios sozinha. Preparou-me para o meu futuro. E mostrou sempre muita empatia e amor por mim, ao mesmo que tempo que fazia de minha professora e melhor amiga, e ainda de pai e de mãe.
De cada vez que ouvia as palavras “Não consigo”, sorria, porque sabia que eu conseguia. Se ela tivesse empurrado o meu baloiço, eu nunca teria saltado dele sentindo-‑me tão maravilhosamente capaz.
Christy Barge

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Uma mudança para melhor

Desde pequena que me diziam para não cometer os erros da minha mãe. É certo que ela não tinha tido uma vida fácil: Engravidara aos 17 anos e culpavame constantemente pelos fracassos da sua vida. Como era incapaz de tomar conta de mim, tiveram de ser os meus avós a ir buscarme quando eu tinha seis semanas e a criarme como se fosse filha deles.
Eu era muito boa aluna na escola e tinha uma relação fantástica com os meus avós. Até que descobri, no 8º ano, que ficar na rua com os amigos até tarde era mais divertido do que ir para casa. Depressa perdi o interesse pelos estudos e deixei de ir à escola. As minhas notas baixaram e fui suspensa por faltar às aulas e por desrespeito para com os professores. Comecei a drogar-me e fugia constantemente para ir a festas. Vestiame toda de preto e tinha comportamentos detestáveis. A minha vida estava totalmente descontrolada.
Os meus avós não conseguiam continuar a assistir à minha autodestruição. A minha vida não se orientava no bom sentido e, pior do que isso, a minha indiferença perante o caos em que tinha mergulhado não me afligia. Depois de se ter demitido de mim durante catorze anos, a minha mãe decidiu ajudarme. Via que me estava a tornar no que ela fora, o que lhe custava sobremaneira, e levoume a um centro de desintoxicação para raparigas.
No centro disseram que eu era uma boa candidata ao programa, mas que tinha de provar estar disposta a seguir as regras que me fossem impostas. Situado no meio de uma agradável zona residencial suburbana, o centro contava com apoio psicológico qualificado, que em muito nos ajudava a alterar os nossos comportamentos autodestrutivos. Também nos era exigido que fôssemos à escola e que fizéssemos serviço comunitário.
As portas não estavam fechadas e eu podia sair quando quisesse. No entanto, não me receberiam de volta se o fizesse. A minha terapeuta disseme que os psicólogos estavam lá para me ajudar, mas que a decisão de me deixar ajudar caberia apenas a mim. Como já não gostava do que via ao espelho e não queria magoar mais a minha família, decidi mudar.
Comecei a dedicarme de novo aos estudos e a participar ativamente nas sessões de terapia. Estabeleci boas relações com as outras raparigas, com quem partilhava atividades divertidas e visitas de estudo interessantes. Aprendi novamente a tirar partido da vida sem recorrer a substâncias. Enquanto lá permaneci, melhorei o meu relacionamento com a minha mãe e os meus avós.
Muito disto deveu-se à minha terapeuta. Era uma mulher fantástica, que me ajudou a compreender muitos dos meus problemas e a curar algumas das feridas que eu tinha infligido à minha família e a mim mesma. Mostroume, sobretudo, que se eu quisesse mesmo ser bemsucedida na vida, sêloia.
Quando terminei o secundário, fui para a escola de enfermagem veterinária. Casei nova, com o meu namorado de sempre, e comprei uma casa. Tudo isto antes de fazer 25 anos. Fui capaz de realizar todos os sonhos que a minha mãe tivera para si mesma e para mim.
Sei que há muitas adolescentes que estão em situações semelhantes àquela em que eu estive, ou até piores. Se lhes pudesse dizer algo, seria que podem ser bemsucedidas se acreditarem nelas próprias.
Podemos sempre mudar para melhor.
A prova disso sou eu.
Megan WatermanFouch